sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Pioneiros de Marcílio Dias

ESTEFANO VITOVSKI
(Witowsczcyk Stefan)
(* 15/10/1909 // + 14/05/2000)
Nascido na Ucrânia, chegou ao Brasil em setembro de 1929, desembarcando no porto de Santos-SP, junto com outros imigrantes.
Sem falar o português e sem dinheiro brasileiro, foi trabalhar na construção da ferrovia Santos-São Paulo (na serra do mar), junto com quatro companheiros que tinham vindo no mesmo navio.
Lá trabalharam durante 3 meses sem receber salários.
Comentava-se naquele local, que na cidade de São Paulo bastava permanecer sentado na Praça da Luz e as carrocinhas (charretes) passavam recrutando trabalhadores para as indústrias paulistanas. Por isto resolveram vender os 3 meses de salário para o “feitor”, que lhes pagou a metade (1 mês e meio) e partiram para São Paulo.
Ocorre que o Brasil estava em crise, às vésperas da revolução de 1930 e ao contrário de admissão de empregados, a indústria paulista estava demitindo.
Foi assim que, sentados nos bancos da Praça da Luz ouviram os apitos das fábricas anunciando o ano novo de 1930.
O dinheiro que tinham estava acabando e ainda foram roubados no quarto da pequena pensão em que estavam, enquanto procuravam trabalho.
Foi então que souberam que em Curitiba-PR já tinha uma colônia ucraniana e resolveram partir para lá, à exceção de um dos companheiros  que havia desaparecido, provavelmente aquele que os furtara.
Tinham que fazer a viagem de trem: São Paulo /Sorocaba /Itararé/ Porto União da Vitória/ Mafra/Curitiba.
Mas ao chegarem em Porto União já não tinham mais dinheiro e suas roupas tinham sido roubadas das malas no vagão de bagagens. Então jogaram as malas às margens da ferrovia e consultando um mapa de como chegar à pé em Curitiba, viram que a única opção era através da ferrovia.
Caminhando, chegaram às imediações de Felipe Schmidt. Cansados e famintos, encontraram um ferroviário que falava sua língua. Então Estefano trocou suas botas (forrada com lã internamente como se usava na Ucrânia) por um pão caseiro (broa) e um colega seu trocou uma jaqueta por um cacho de bananas e dormiram em um pequeno depósito da estrada de ferro.
O ferroviário lhes dissera que na manhã seguinte um trem “lastro” passaria coletando trabalhadores para trabalhar no término de um ramal que ligava Canoinhas a Ouro Verde.
Pegaram este trem e aportaram em Canoinhas (hoje Marcilio Dias). A partir dali muitas histórias se sucederam.



Foto do passaporte de Estefano Vitovski
 

Foto no Photo Hulig – Canoinhas, 1930
 

                Capa do passaporte de Estefano.


    Carteira de Trabalho de Estefano.
 

Foto com os colegas imigrantes, no Photo Hulig, Canoinhas, em 1930. O que está em pé atrás de Estefano, era seu primo, da família Puchalski (linha materna), o qual foi embora para o Rio Grande do Sul.


           
          Estefano Vitovski com amigos em 1932.

Sozinho, Estefano conseguiu aprender a falar, ler e escrever o português e permaneceu trabalhando como “turmeiro” da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (depois Rede Ferroviária Federal), até que no início de 1936 conheceu uma moça chamada Maria das Neves Alves, com apenas 16 anos de idade.
         Maria era filha da viúva Ana Corrêa Alves. Ana tinha dois filhos que trabalhavam na manutenção de pontes metálicas da estrada de ferro e se deslocavam com frequência, acampando temporariamente onde tivessem que trabalhar. A mãe os acompanhava para cozinhar e manter suas roupas e pertences.
         Dos muitos outros filhos, Ana ainda tinha duas filhas solteiras, Antonia e Maria.
Anna Cypriana Corrêa dos Santos Alves. Após o casamento de Antonia e Maria, Ana permaneceu residindo por mais algum tempo em Marcilio Dias, mudando-se posteriormente para Curitiba-PR.




           Antonia casou-se com o também “turmeiro” José Sabino.
              Estefano e Maria casaram-se depois de apenas 6 meses de namoro.
Casamento de Estefano Vitovski e Maria das Neves Alves, em 26 de setembro de 1936. A partir do casamento ela passou a chamar-se Maria Alves Vitovski.
                                        Foto retocada de Estefano e Maria.

Casados, foram morar em um casebre com paredes de dormentes usados e cobertura de zinco, pertencente a Estrada de Ferro, o último rancho à direita da ferrovia antes da “ponte de ferro”, no sentido Três Barras.
         Ali nasceu e morreu seu primeiro filho, até que em 1940 adquiriam um terreno no KM 1 do ramal Marcilio Dias-Canoinhas (onde hoje é a propriedade de Juventino Vieira), onde Estefano construiu uma casa a partir de um paiol velho que comprou e desmontou. A casa ainda está preservada.
         Mesmo sem ter frequentado escola, Estefano foi presidente da Associação de Pais e Professores da Escola Professor Manoel da Silva Quadros nos anos 1950, quando esta ainda era uma pequena construção de madeira na frente da Igreja Luterana e nesta ocasião, junto com outras lideranças, conseguiu a construção da nova e moderna escola, que passou a chamar-se Grupo Escolar Professor Manoel da Silva Quadros.
         Antes da construção desta nova escola, face ao reduzido tamanho da escola de madeira (chamada carinhosamente de “escolinha”), os alunos eram distribuídos entre duas outras pequenas escolas, uma próxima ao hotel e salão Metzger e outra na Cafina, nome dado ao bairro onde estava o laboratório de extração de cafeína da erva-mate (na estrada que conduzia ao Campo do Trigo, entre a esquina do açougue Pangratz e a residência de Gilberto Ritzmann).
         Já no final da década de 60, foi presidente da comissão da Igreja São Bernardo (igreja católica), quando construiu o barracão de festas onde antes estava a antiga igreja de madeira.

À esquerda, a casa construída por Estefano. Os anexos são posteriores. Ao fundo o terreno alagado pelo Rio Canoinhas em época de enchente.

Casa de Estefano Vitovski na grande enchente de 1983. Nesta época ele não residia mais neste imóvel, tendo se transferido para Florianópolis em 1973 e a propriedade já pertencia a Juventino Vieira.

                                        Enchente de 1983

   Enchente de 1983. A ponte entre Marcilio Dias e Três Barras boiou, ficando presa à tubulação de água.


 Enchente de 1983. A ponte próxima à casa de Estefano, boiando, presa somente à tubulação de água.

Constituída a família Vitovski, vieram os filhos:
Teodoro (nasc. em  11/08/1937 e falec. em 27/07/1939);
José (nasc. em 14/10/1939 e falec. em 23/02/2007);
Maria Carmem (nasc. em 16/07/1941);
Ana (nasc. em 26/08/1943);
Francisco de Assis (nasc. em 24/12/1948)
Cecília (nasc. em 27/07/1950 e falec. em 06/02/1964);
Estela (nasc. em 13/12/1955);
Ivete (nasc. em 17/12/1957).


Foto da família em 1962. Ao centro, Estefano e Maria. Atrás deles está José. À direita de Estafano estão Maria Carmem e Cecília. À esquerda de Maria estão Ana e Francisco de Assis. Na frente Estela e Ivete – e o cão Billy.

Foto dos anos 1960. Automóvel HUDSON 1940 pertencente a Estefano. Na foto ele e Maria, já com 10 netos.


              Fotos dos anos 1960. Estefano com os genros Nelson Bosse e Adi Loth.


                                    Foto do primeiro filho (Teodoro)
Foto do batizado da filha Estela. Da esq. p/ a dir.: Jair Sabino, José Sabino, Wando Skudlark, desconhecido, José Vitovski e José Sabino Filho (Zézo). Menino à frente desconhecido.

      Documento de naturalização de Estefano, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas.
Foto na corredeira do rio Canoinhas. Da dir. p/ a esq.: Wando Skudlark, Jurema Skudlark, Alzira Skudlark e José Vitovski.


                           Wando e Jurema – padrinhos de Estela. Foto tirada no dia do batizado.

                            Ana Vitovski, no Grupo Escolar Almirante Barroso, em Canoinhas
                                       Ana Vitovski – formatura no Curso Normal Regional.

À esq. Ana Vitovski – primeira princesa da Festa de São Bernardo em 1960. Ao centro a rainha da festa, Maria Pangratz.


1963 – Baile no salão do Metzger. Da esq. p/ a dir.: Nelson Bosse, Ana Vitovski Bosse, Ivete Milek Vitovski, José Vitovski, Adi Loth, Maria Carmem Vitovski Loth, Antonio Milek (cunhado de José). À frente, Cecília e Francisco de Assis Vitovski.

Baile no salão do Metzger. Junho de 1963.

Anos 1950 – Foto no Estádio Municipal de Canoinhas. Da esq. p/ a dir.: Silvia Romanhuk, Ana Vitovski, Adelaide Romanhuk, Maria Carmem Vitovski e Matilde

Maria Carmem Vitovski
                                      Casamento de José Vitovski com Ivete Milek, em 09/06/62.

                                      Casamento de Maria Carmem Vitovski com Adi Loth, em 12/05/1962.

                                    Casamento de Ana Vitovski com Nelson Bosse, em 13/10/1962.

                Casamento de Francisco de Assis Vitovski com Odete Sardá, em 10/07/1971.

Casamento de Francisco de Assis Vitovski com Odete Sardá, em 10/07/1971.
                            Casamento de Estela Vitovski com Vanio Menegaz Nandi.


Primeira comununhão de José, Maria Carmem e Ana. Sentados, Francisco de Assis e Cecília.


Maria Carmem e Ana, daminhas de um casamento.
Maria Carmem e Ana, junto com Adelaide e Silvia Romanhuk, assistindo a uma partida de futebol entre Botafogo e Santa Cruz, no Estádio Municipal de Canoinhas.


                           Primeira comunhão de Cecília. Como anjinhos Estela e Ivete.


                                           Primeira comunhão de Estela e Ivete.


               Francisco de Assis Vitovski, Cadete da Polícia Militar de SC em 1967.


Francisco de Assis Vitovski, recém formado Oficial da Polícia Militar de SC, em 09/12/1969.


     Francisco de Assis Vitovski, Tenente-Coronel da Polícia Militar de SC, em 1994.


Filhos de Estefano Vitovski no ano 2000. Da esq. p/ a dir.: José, Ana, Ivete, Francisco de Assis, Estela e Maria Carmem.

                            Bodas de Ouro de Estefano e Maria, em 26 de setembro de 1986.


                            80 anos de Estefano, em 15/10/1989.


     Bodas de Diamante (60 anos de casamento) de Estefano e Maria, em 26/09/1996.


                                       Bodas de Diamante de Estefano e Maria.


                            Estefano com bisnetos, já próximo dos 90 anos.

Assim termina mais uma bela história de pioneirismo. Estefano faleceu em 14 de maio de 2000, aos 90 anos de idade. Maria faleceu em 17 de novembro de 2001, aos 81 anos de idade.
E eu, Francisco de Assis Vitovski, como filho, tenho o dever de repassar todos os seus passos, não apenas os aqui narrados mas todos os muitos outros fatos que aconteceram no decorrer de suas vidas, para meus filhos e netos, esperando que estes projetem na posteridade as raízes de nossa família. Toda árvore (inclusive a genealógica) que tem raízes fortes, sustenta com segurança seus ramos e estes produzirão bons frutos.
Meu abraço carinhoso aos habitantes de Marcilio Dias.

             FRANCISCO DE ASSIS VITOVSKI

         Francisco é escritor e já tem publicados os livros:







6 comentários:

  1. Tão bom conhecer a história das famílias que conhecemos e convivemos...Saudades!

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  2. Tão bom conhecer a história das famílias que conhecemos e convivemos...Saudades!

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  3. Ameio o sua postagem, Francisco. Certamente você honra a memória de seus pais e antepassados. Gosto muito de Genealogia e inclusive sou sócia-fundadora do Instituto de Genealogia do Estado de Santa Catarina- INGESC. Valorizo muito estes relatos. Tenho a árvore genealógica dos pioneiros da minha família, desde a Alemanha e Portugal. E por aí afora. Meus parabéns.









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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Bela história Sr. Francisco de Assis. Fui vizinha de seus pais em Biguaçu/SC. Muitas lembranças afetivas de sua mãe, que carinhosamente chamávamos de Dona Nevinha. Ela era uma irmã mais velha pra minha mãe e uma avó pra mim. Sempre me mimava. toda vez que fazia galinha com aipim me chamava pra almoçar com ela porque sabia que eu adorava. A horta ao lado da casa, ela deixava eu colher e comer cenourinhas e azedinhas (uma vez seu filho estava junto). Lembro dela preparando chucrute, fazendo chá mate leão com limão, ela gostava bem gelado. E os móveis da casa de seus pais, era um sonho. E aquela vitrola antiga então. A foto da Cecília e do casal que ficava na sala, o jardim bem cuidado. Muitas lembranças. Sua mãe fazia aniversário em fevereiro (11) , no mesmo mês que eu e minha mãe. Importantíssimo a preservação dessas histórias. Também sou uma apaixonada por genealogia.
    Abraço e obrigada por me fazer voltar no tempo e rever sua mãe a quem eu tinha um carinho imenso.

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  6. Em tempo, curiosa em ler seus livros, onde posso achá-los?

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