sexta-feira, 11 de março de 2016

Projeto “Encontro Marcado”, um marco literário em nossa vila

    Sempre gostei de estar envolta por pessoas ligadas às letras, ligadas
às artes. Em meu tempo de estudante de Medicina o apaziguamento de
minha mente eu encontrava escrevendo para um jornal de Curitiba e no
contato com um heterogêneo grupo que, em todas as tardes, se reunia em
uma galeria de arte.
A galeria ficava bem na esquina de onde eu morava e a dois passos
da Policlínica da nossa Faculdade onde aconteciam as magistrais aulas
teóricas.
Esquecer as mazelas e as dores encontradas dentro dos hospitais,
necessário era. E naquele grupo formado por escritores, jornalistas,
fotógrafos, artistas plásticos, músicos, arquitetos e outros mais aficionados
pelas artes tudo era assunto, menos as angústias por onde eu passava o dia.
Um grupo que reunia a fina flor da boemia intelectual de uma época, como,
jocosamente, nos denominávamos.
Imprescindível era conviver-se com este outro lado da vida, transpor
o portal que separa o mundo real, o mundo sofrido do lado de cá, do mundo
fantástico do lado de lá. O atravessar a tênue linha deste imaginário portal
sempre foi a melhor terapia que minh’alma encontrou para equilibrar o meu
caos interior.
Foi um intervalo muito longo o intervalo em que longe das letras eu
fiquei. Mas eu vislumbrava aquela luzinha, ao longe, sempre a brilhar,
sempre a me convocar.
E um dia, um colega, presidente da Cooperativa de Trabalho Médico
de Videira, fala-nos sobre um projeto literário que lá havia sido implantado.
Meus olhos brilharam. Meus nervos ouriçaram-se. Inveja? Claro que
sim, a santa inveja de fazer algo igual por aqui.
Era o Projeto “Encontro Marcado”, projeto que fervilhou e tomou
conta da cabeça de uma professora de Língua Portuguesa daquela cidade, a
Professora Lia Fausta Bonilla Colomé.
As linhas foram jogadas. Os contatos amadureceram. E o Projeto
“Encontro Marcado” em Canoinhas vicejou.
A finalidade deste projeto era o de entrosar o escritor catarinense e
os alunos do ensino médio das escolas estaduais de nosso estado.
A Professora Lia se encarregava de manter o contato com a
Academia Catarinense de Letras e, a cada ano, um de seus membros faria
um circuito pelas Cooperativas Médicas do estado. E, visitando as
Unimeds, ela se reunia com as professoras, repassando-lhes dados sobre o
escritor e suas obras.
Alguns livros do autor em foco eram escolhidos e adquiridos pelas
Unimeds que os doava às escolas participantes do projeto.
Eram envolvidos não só os professores de Língua Portuguesa, mas a
Escola como um todo, pois os alunos não apenas deveriam ler, como
dissecar e trabalhar em cima dos temas abordados nos diversos livros.
E, então, mais para o final do ano, em um dia especial o escritor
viria para um congraçamento com estudantes e professores.
A glória, a alegria de poder ter lido um livro e depois contar com a
presença do escritor a meu lado foi algo, para mim, impensável em meus
gloriosos dias de escola.
Os escritores eram, pela nossa distante geografia, naquele tempo,
pessoas inatingíveis que habitavam outras galáxias.
E agora, aqui estavam, tangíveis, tão perto, a trocar ideias, a
conversar com seus leitores.
Mas eu queria falar especialmente do dia em que o primeiro escritor,
Amilcar Neves, veio a nossa vila, a vila de Marcílio Dias, para o “Encontro
Marcado” com os alunos da Escola Básica “Manoel da Silva Quadros”.
E foi num dia de sol esplendente que Amilcar lá chegou com seu
indefectível e inesquecível boné.
Um dia pleno de belas coisas para contar.
Que em outro dia eu contarei.
 
Por Adaír Dittrich

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