terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Como surgiu a ideia de se construir um Hospital em Canoinhas.


 Texto da Professora Avany Dittrich Jürgensen


   Nas décadas de 1910 e 1920, Dona Thereza Gobbi era dona de um hotelzinho, o Hotel Gobbi, perto da estação ferroviária de Marcílio Dias, cujo nome, naquele tempo, era Canoinhas.

Ficava quase às margens da linha ferroviária e atendia ao pessoal dos trens, fornecendo-lhes marmitas. E, assim, ela se tornou popular naquela freguesia.

Certo dia ocorreu um acidente com um guarda-freios de um trem de carga. Ele ficou muito machucado, necessitando ser hospitalizado. Como sempre, muito prestativa, sabendo do sucedido, Dona Thereza correu em seu auxílio, juntamente com seu filho Pedro e demais pessoas. Mas, como havia carência de tudo para o socorro, em toda a redondeza, ela improvisou uma maca, feita de lençóis e o acidentado foi transportado para Curitiba em um trem de carga, levando um dia inteiro de viagem.

Surgiu então a ideia, proposta por seu filho Pedro de que se fizesse uma campanha para a construção de um hospital, pois, condoeu-se muito ante a visão de tão lamentável ocorrência e tanta falta de recursos para minorá-las.
Dona Thereza, apoiando a ideia do filho, levou avante seus propósitos. Transmitiu seu intento ao Dr. Oswaldo de Oliveira, conceituado e conhecido médico da localidade, que, acolheu a ideia com grande satisfação, dando-lhe todo o apoio necessário.
Dirigiu-se às autoridades para solicitar-lhes apoio, como, também, ao povo em geral e através da comunicação de pessoa a pessoa, convocaram-se reuniões e uma diretoria foi organizada. E o "pontapé" inicial foi dado.
Dona Thereza, com a vasta relação de amizade que conquistara em Curitiba, quando moradora daquela cidade, angariou prendas valiosas e, com o auxílio de um grupo de senhoras, conseguiu realizar a primeira festa em prol da construção do hospital. Inclusive doou todas as suas joias de família que trouxera com ela da Itália.
Angariavam donativos em toda a redondeza. Havia muitas voluntárias, abnegadas,
dedicadas, suportando canseiras, humilhações e chacotas, como soe acontecer em atividades deste gênero. Não esmoreceram, porém. Arrecadou-se uma boa quantia, falando-se em mais ou menos "Oito Contos de Reis". Mas, as coisas eram diferentes das coisas de hoje em dia e, não se sabe como, o montante arrecadado encolheu e para nada serviu.
Por longo período a campanha estacionou. Foi uma ducha fria em todo aquele entusiasmo.
Dona Thereza, após a morte de seu filho Pedro, com 28 anos de idade, em 1931, querendo prestar-lhe uma homenagem e com o entusiasmo que lhe era peculiar, reacendeu a campanha.
Iniciaram-se as festas e os donativos. Os abnegados de bom coração manifestaram-se e começou-se da estaca zero.
Organizaram-se festas, inclusive em Três Barras e Marcílio Dias.
 
Dona Thereza, através de seu guarda-livros, Sr. Alfredo Lepper, de saudosa memória, redigia cartas a importantes industriais de São Paulo, entre eles ao Conde Francesco Matarazzo, conseguindo importantes e valiosos donativos, inclusive ações, e também tecidos com os quais ela confeccionou os primeiros lençóis do Hospital Santa Cruz.
Tendo conseguido a importância necessária, iniciaram-se as obras para erguer o nosso primeiro hospital. O terreno fora doado pelo Sr. Victor Soares de Carvalho, de saudosa memória e que Deus o recompense por tanta caridade, abnegação e desprendimento.
Muita gente lutou e batalhou para que se tornasse realidade este sonho. Não há como citar os nomes de todas e de todos, mas Deus em sua onisciência saberá recompensá-los devidamente.
E Canoinhas deve seu reconhecimento a todos, não se esquecendo do enorme benefício que já trouxe a tantos necessitados, minorando os seus sofrimentos e trazendo-lhes esperanças.

Dona Thereza na festa para arrecadar fundos para a
construção do Hospital.
Hotel Gobbi.
Fotos do acervo de Adair Dittrich e Arcelia Jürgensen .

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